Não nos deixemos perder!!
Gosto de navegar na minha mente esquisita e aliciante, como agora mesmo estou a fazer.
Apaixono-me por mim mais e outra vez.
Pelo meu sorriso fácil, o meu choro contido, o meu mau feitio matinal.
Quero-me tanto que não sei se encontrarei alguém suficientemente bom a quem me entregar.
Esta adopção não vai ser fácil.
Quando estamos apaixonados pelo nosso espaço, pelo nosso tempo, pelo nosso eu...é difícil doá-lo.
É difícil abdicar dele, comparti-lo com outra pessoa.
A curiosidade fica mais aguçada e difícil de satisfazer.
Já vimos tudo tantas vezes.
Parece-nos tudo tão igual e desinteressante agora que crescemos.
Melhorar o nosso eu é bom, é prazeroso.
Polvilhar a nossa vida de experiências e aventuras, de viagens e gravuras sabe bem e recomenda-se.
Mas aquele muro que a experiência nos traça é difícil de saltar.
É muito alto para subir.
Vamos construindo mais e mais requisitos em nós próprios, desejando ser e ter cada vez mais e mais.
Tornamo-nos isolados, perfeccionistas, sem capacidade de encaixe.
Buscamos o raro porque o comum já não nos excita.
Buscamos o igual a nós para não estragar muito o trabalho já feito.
Para não destoar, não misturar.
Acabamos a preferir-nos a nós próprios do que a novas aventuras que dão trabalho e podem destruir-nos a tranquilidade.
A vida simples é a que dá gosto, mas com a experiência que vamos podendo ter, sítios que vamos podendo ver e pessoas que vamos podendo conhecer o gosto fica mais requintado. A fasquia mais alta.
Deixamo-nos levar pela ideia de que só o que dá trabalho é que vale a pena ter, é que dá gozo conseguir.
Começamos a ficar viciados no sofrimento.
Mas a beleza da vida não está nas coisas simples?
Num beijo com paixão.
Num olhar interminável.
Num cheiro a pão acabado de cozer.
Numa lambidela de um cão.
Num sorriso de uma criança.
Ver o mundo sim, mas com o coração.
Não nos deixemos robotizar, não nos deixemos manipular, não nos deixemos perder a noção do que realmente importa nesta passagem.
Vamos abraçar, vamos beijar, vamos cheirar, vamos olhar, porque amanhã não sabemos o que vai estar aqui.
Vamos gozar de tudo o que podemos. Não nos acostumemos, não nos limitemos, não tenhamos medo de errar.
Esta semana num filme chamado "Sr. Ninguém" ele dizia que é difícil tomar decisões porque uma vez que as tomamos não podemos voltar atrás e enquanto não decidimos tudo se mantém possível.
Parece que existe uma pressão de que temos de encontrar o Sr. Perfeito no primeiro tiro, nos primeiros anos de escola, nos primeiros verões, nas primeiras saídas à noite.
Temos de nos permitir sofrer. Tentar, abrir as portas às pessoas para entrarem na nossa vida e nos conquistarem, mesmo que isso não dê em nada.
Ninguém é obrigado a ficar com ninguém, não há regras.
Porque se não, como diz aquela comum frase cuja autoria desconheço, "Podemos acabar por perder a lua enquanto andamos a contar as estrelas".
Beijos!