Marcas do bullying na infância
Era a menina mais gorda da turma.
Sempre fui, do 1º ao 4º ano.
Nunca conseguia saltar no trampolim como as outras meninas, as aulas de ginástica para mim eram um tormento.
Sem mencionar que era sempre a ultima a ser escolhida para as actividades em grupo.
A roupa era outro tormento. Pobre da minha mãe.
Não conseguia vestir uma saia cor-de-rosa como as outras meninas sem parecer um barril.
Desde muito cedo tive de começar a usar roupa de gente "mais velha" porque os vestidos da minha idade não passavam na minha barriga.
Eram 3 "banhas".
Contava-as sempre em frente ao espelho.
Ficava a olhar para elas e a imaginar se não estivessem lá como seria o meu corpo. "Perfeito", pensava eu.
Foram muitos anos, muitos dias de julgamentos e comentários maldosos.
Todos os dias, todos os recreios.
"És gorda", "Sai daqui", "Não brincas connosco".
Que marcas pode isto deixar? Quantos anos podem durar?
Pois se nunca se falar sobre isto, a vida inteira.
Quem nunca passou, nem pode imaginar o que é.
Pior, à medida que fui crescendo fiquei bastante magra e alta.
Então comecei a ser vitima de bullying pelo motivo oposto. E principalmente das mulheres.
Nunca percebi porque as miúdas da escola diziam que eu era isto e aquilo só por usar a barriga à mostra.
Aquilo para mim era uma vitoria, nunca tinha conseguido ver a ponta dos meus pés, quanto mais andar de umbigo à mostra!
Para elas era uma "oferecida". Às vezes até me chamavam nomes piores.
Felizmente para mim, com esse bullying lidei eu melhor.
Tudo o que sou hoje em dia, as capas que coloco, são fruto da protecção que encontrei para lidar com o medo de ser posta de parte.
Eu "isolo-me" do meu grupo de trabalho porque tenho medo que eles não me aceitem.
Eu visto-me bem, maquilho-me, ando sempre de salto alto, porque preciso de chamar à atenção.
Preciso sentir-me bonita e apreciada. Por agora e por todos os anos em que sofri.
Não mostrar as minhas fragilidades, para mim fraquezas, são o fruto de muitos anos a tentar ignorar as palavras que ouvia e a ser "superior".
Na minha cabeça, quando gozavam comigo eu não podia parecer afectada para não dar o gosto ao "agressor".
Talvez se tivesse chorado e mostrado o quanto doía tivesse alguém que reparasse na minha dor e me acudisse.