Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

Só sirvo para os dias de semana

Fez esta semana 3 meses que o conheci.

Depois de me meter onde não fui chamada e insistir em ir para o after seguir a minha paixão alguém me chamou para mo apresentar.

A casa era dele, o after era dele, mas curiosamente todas as pessoas que ali estavam sentadas eram amigas do dealer (o meu amor de então).

A Rita (amiga do dealer) ao ver-me a ser humilhada chamou-me e disse-me:

"Senta aí no colo do João"

Pensei para mim "Olha que bem que me serve para ver se aquela alminha sente algum pingo de ciume"

A verdade é que a alminha nem sequer pestanejou e eu acabei por ter uma conversa porreira que durou a tarde toda.

No final do after já eram umas quatro da tarde começaram-se a dissipar as pessoas e um pequeno grupo falou em ir ao Brunch.

Eu, que já tinha tomado um shot de md, obviamente comecei a ficar atenta aos planos.

Os bilhetes compravam-se online, a minha conta ainda tinha saldo e não tinha nada mais interessantes para fazer.

Decidi então ir com dois desconhecidos para o Brunch tentar ver o Motor City Drum Ensemble.

Antes de ir e como não tinha bateria no telemóvel nem carregador tive o discernimento de pedir ao João para me escrever o numero de telemóvel dele e a morada, caso acontecesse alguma coisa, eu voltaria para casa dele.

Claro que não demorou muito ate isso acontecer porque mal cheguei ao recinto e depois de andar uma hora no meio da Ajuda comecei a acusar o cansaço de muitas horas acordada e acima de tudo em jejum.

Tinha-me esquecido que não comia há 18 horas.

O efeito do md passava e a fraqueza começava a aparecer.

Pedi o telemóvel a um dos desconhecidos com quem fui para fazer a chamada ao João.

Fui então resgatada pelo príncipe no Volkswagen Polo eram umas 18:00.

Estava tão fraca que nem me lembro bem do que aconteceu.

Sei que acabamos a ir comprar comida ao Lidl e depois fomos estacionar perto do rio.

Conversámos até altas horas sobre o que o dealer me tinha feito sofrer, tomamos mais md e no final ele foi levar-me a casa.

Foi levar-me a casa mas não me conseguiu deixar lá sozinha visto que estava com uma moca tal que comecei a alucinar e a ficar com medo de tudo.

Pois bem...que belo dia de apresentação foi esse, a dormir com um desconhecido na minha própria cama com a maior moca de md de sempre.

Já passaram 3 meses.

Depois daquela noite ficamos inseparáveis.

Ele apaixonou-se perdidamente por mim e eu fiz dele um bocado o meu gato sapato mas a verdade é que fui-me apaixonando pela forma como ele me tratava.

Ao longo destes 3 meses cozinhei mais para o João do que para qualquer outra pessoa.

Chegava mesmo a ir comprar-lhe o pequeno-almoço à pastelaria e deixa-lo na cozinha para quando ele acordasse.

Podia não querer assumir um compromisso, mas tratava-o sempre como se de meu namorado se tratasse.

Dormimos muitas vezes agarradinhos (coisa rara também para mim) e tivemos serões de sexo completamente alucinantes.

Não posso mentir....foi o sexo que me prendeu.

Tive alturas em que praticamente nem sentia falta de moca nenhuma porque o prazer que tinha em estar com ele era maior.

Por essa razão fui deixando de sair e fui-lhe propondo cada vez mais ficarmos em casa, a ver filmes, enrolados à manta.

Fui-me então apercebendo que ele não estava muito confortável com isso.

Ele não consegue não sair à noite aos fim-de-semana.

Nos últimos 2 fim-de-semana nem sequer esteve comigo porque diz "Posso estar contigo durante a semana".

Decidi então mostrar o meu desagrado.

Depois de nova discussão com os meus pais na sexta-feira ligo-lhe para saber se não quer ir la jantar a casa ao que ele me diz "Não me estejas já a bloquear o fim-de-semana. Posso estar contigo segunda, terça....".

Disse ok e ele disse que me ligaria passado um bocado.

Não ligou.

Enviou-me uma sms domingo à noite e eu respondi-lhe que não servia para domingos à noite.

Estou triste, estou desiludida, estou a sentir-me usada.

Parece que assim que destapo um pouco do amor que tenho para dar eles fogem.

Andam todos atrás de mim enquanto os trato mal.

Agora que queria finalmente retribuir o carinho e amor que ele sempre fez questão de demonstrar, ele não quer mais.

Sinto falta dele mas nem sequer tenho vontade de estar com ele porque estou magoada com a forma como ele me fez sentir.

Bem sei que fui eu quem quis que isto fosse uma amizade colorida, mas não consigo entender porque é que a vontade dele de ser algo mais desapareceu quando eu comecei a dar mais de mim.

Afinal, não somos assim tão diferentes e se calhar quando ele sentiu que já me tinha conquistado perdeu o interesse e atenção, tudo bem, isso acontece, não é sequer o que me está a doer, mas sim o trato, o desprezo, a frieza com que ele me fala e me mostra que só sirvo para a semana.

Apesar de ate então ele ser a parte que mais gostava eu sempre o tratei com carinho e sempre fiz tudo para que ele se sentisse amado.

Ao contrario, quando lhe falta o "amor" parece que não resta nem respeito nem gratidão por tudo o que sou e fui para ele.

E isso, é o que me deixa mais triste.

A saudade de quem parte

Acredito que sou sortuda.

Nunca soube bem como iria reagir assim que perdesse a primeira pessoa.

Tive ao longo dos últimos anos alguns tios que foram morrendo, tudo por doença,  mas tudo não muito prolongado nem demasiadamente doloroso.

Não assisti a grandes degradações, com excepção da minha avó que já passaram mais de 10 anos e era muito miúda para absorver o impacto que aquilo teve para a minha mãe.

Além disso nunca fui muito ligada à família da minha mãe.

Eram e são pessoas propensas para a desgraça (como ela diz).

A minha avó criou 8 filhos e depois disso decidiu entregar-se ao tabaco e ao álcool.

Iniciou o seu degredo e a família assistia em silêncio porque ninguém queria muito saber e além disso nunca se está preparado para educar a própria mãe.

Quando eu nasci esta situação já existia e lembro-me da minha mãe me avisar para não aceitar ir comprar vinho à minha avó.

Vivíamos todos no mesma praceta. Eu, pais, avós maternos e avós paternos.

Foram todos criados ali e por ali se criaram até aos meus 10 anos.

A minha mãe perdeu o pai muito cedo e assim que se casou com o meu pai mudou para a casa dos meus avós paternos e eles adoptaram-na.

Nunca sabia muito bem porque a minha mãe não me levava tantas vezes a casa da avó.

Hoje compreendo que ela não queria que eu assistisse nem ao sofrimento dela, nem ao degredo daquela casa.

Dos 8 irmãos poucos se safaram do tabaco e do alcoolismo.

A minha avó morreu já sem pernas porque devido ao diabetes foram-na cortando aos poucos.

Lembro-me da ultima vez que a vi, tinha 15 anos na cama do hospital dos capuchos.

Só recebia 1 visita de cada vez e não pude dizer que não porque já sabia que teria de despedir-me dela.

Estava tão inchada que nem a reconheci.

Tirei um tempo para lhe tocar na mão e em silencio relembrei todas as poucas memorias que tinha dela.

A mão dela estava amarela e gelada.

No dia seguinte morreu.

Nunca vi a minha mãe chorar, nem estive ao lado dela durante o funeral ou velório.

Não tinha maturidade para perceber que ela estava a sofrer tão ou mais que os outros, mas que tinha de ser o pilar deles todos.

 

Passados 14 anos foi a minha vez de ser o pilar de todos.

O meu avô morreu, pacificamente e eu não chorei.

Agarrei a minha avó por um braço, agarrei a minha mãe pelo outro, abracei o meu pai e o meu irmão e sorria.

Sorria como o meu avô me fazia a mim desde sempre.

No dia que ele morreu fizemos uma almoçarada a rir e contar as historias que ele contava.

Bebemos todos vinho tinto e discutimos sobre quem bebeu mais, como sempre acontecia.

À medida que o tempo foi passando fomos sobrevivendo.

Tenho momentos em que os pensamentos se cruzam com a saudade por me esquecer que ele morreu.

Tenho momentos em que quero partilhar coisas com ele e ouvir a sua opinião, mas lembro-me que ele não está.

Sexta-feira dia 16 de Novembro ele faria 87 anos.

Vai chegar a primeira data em que todos vamos quebrar e sei que a minha família espera tudo de mim.

Espera que eu seja a voz que os acalma tal como acalmei naquele dia.

Sexta-feira, vou jantar com a minha avó, levar pizza para o jantar como ele gostava e embebedarmo-nos com uma bela pinga (pois não poderia deixar de ser).

Vamos rir, vamos chorar, esteja quem esteja, à bela moda transmontana.

Vou reconfortar-lhe o coração da melhor maneira que sei como ela me reconforta o meu.

Ontem, depois de ter feito uma directa numa noite ontem houve descaída ela olhou para mim e perguntou "Não dormiste pois não filha?"

Tal não eram as minhas olheiras.

Eu disse "Não avó".

E com o olhar, ela reconfortou-me e eu pedi-lhe desculpa.

Tudo em silêncio. 

Desabafos de um amor incompleto

Encontrei este texto que escrevi quando estava apaixonada pelo dealer.

Como diz o meu melhor amigo "Miúda, esquece-o".

E eu respondo "João, eu esqueço, mas não consigo ignorar."

 

 

 

São os olhos dele que me prendem

quando tento lembrar-me de como ele é

são deles que me lembro primeiro

a forma, a intensidade, a intenção

gosto de o ficar a observar quando dorme

posso percorre-lo sem medo de ser apanhada

fico com uma imagem bem guardada

para rebuscar durante o tempo que passo sem ele.

Ele não sabe o que significa para mim

não sei se isso ajuda ou complica

tento andar no limbo para não sofrer demasiado

ou até perdê-lo, por assustá-lo...

Não é opção para já dizer-lhe o quanto sinto falta dele

ainda não há profundidade para isso

para mostrar saudade

pouco falamos, nas horas que temos

é com o corpo que nos entendemos

mas ele desabafa, deixa-me descansada.

Há nele uma necessidade de me contar as historias dos seus dias

como se me quisesse integrar, e é isso que é cinzento para mim

mais ainda porque nunca é ele a iniciar uma conversa, sempre eu

será que ele pensa em me compensar pela falta de atitude?

Não sei entender este sinais que me dá, se calhar nem são sinais

a verdade é que não me chama para nada, mas aceita praticamente tudo o que lhe proponho

e até reclama se o encontrar na rua e não parar parar para conversar.

Será narcisismo? Será a necessidade que ele tem da minha atenção somente ser notado

e nada tem a ver comigo?

Bom isso não tem como eu saber, mas vou ficar atenta.

Ate penso em ignora-lo durante uns dias 

para ver se ele nota diferença

mas acho que só eu vou dar conta.