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A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

Não sei usar as pessoas?

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Sex and the City - The Power of Female Sex - SE01 EP05

 

Neste mundo nocturno que tenho vindo a conhecer tenho encontrado pessoas que ao contrário de mim possuem uma habilidade extraordinária de sedução que lhes permite obter o que querem dos outros.

 

Há uma rapariga em particular.

Rapariga como quem diz, miúda, de 21 anos, cara de princesa e corpo esguio, sensual com ar frágil, que dá vontade de proteger.

Às vezes gostava de poder ficar de longe só a apreciar como faz.

 

Ela sai praticamente todos os dias e nunca a vejo pagar absolutamente nada.

Tem uma capacidade de sedução que até a mim me levou a crer que de facto estava comigo porque gostava de mim.

 

Mostra-se sempre disponível para ouvir, para aconselhar e para sair à noite.

Em troca precisa só de alguém que lhe dê bebidas e droga.

 

Dei-me conta deste esquema talvez mais cedo do que o esperado e depois de me ter tirado (a modo emprestado) quase meio saco disse-lhe que me devia 25 euros pelo abuso.

Obviamente que nunca me pagou, obviamente que nunca mais falei com ela.

Ás vezes encontramo-nos e eu digo-lhe que estou chateada ainda por causa do mesmo assunto.

Faz cara de bebe e diz que anda cheia de trabalho.

Como se eu não visse os instastories dela todos os dias...

 

Todas as semanas anda com pessoas novas.

Esta semana calhou uma artista plástica que tal como eu, deve ter-se apaixonado por ela.

Se calhar vai demorar mais tempo a perceber que está a ser usada já que tem um fundo maneio muito maior que o meu.

 

Se condeno a atitude dela?

Não sei...Admiro como ela consegue ter tantos amigos e obter tanta coisa de graça sem nunca ter de facto de "pagar o almoço".

 

O jogo do "dá e tira" tão bem ensaiado com tão tenra idade.

Eu com 21 anos nem bebia álcool...

Se calhar fui introduzida a este mundo demasiado tarde para aprender qualquer coisa.

Já tenho a minha consciência demasiado enraizada.

 

Não consigo seduzir sem dar nada em troca.

Não consigo manter as pessoas em lume branco e ir retirando delas algum proveito.

O meu tempo é demasiado precioso para fazer corpo presente.

Para plantar coisas que irei colher para a semana.

Para a semana é muito tempo, quero agora.

E por isso, ao contrario dela, assusto as pessoas, não as mantenho perto.

 

Se fico perto delas sugo-as, se estou longe sou demasiado indiferente e elas acabam por perder o interesse....

 

Nada que de resto não fosse óbvio face ao meu perfil ansioso.

Mas será que mais tarde ou mais cedo ela não será descoberta? Encostada à parede e obrigada a pagar todos os almoços de uma só vez?

Ou será que o meu ego demasiado irritado com a situação não consegue encaixar que se calhar as pessoas podem até (só) gostar de estar com ela e não querer saltar-lhe para a espinha?

 

Hm....acho pouco provável.

Será que me sinto incomodada com o facto de ela conseguir tão bem manter as pessoas fascinadas e a bajula-la sem realmente ter de pagar o preço, sem ter de se entregar?

 

Se calhar é tudo inveja, certo é que já tentei fazer o mesmo e não me dei tão bem.

Ou acabei com cama ou acabei a nunca mais ver a pessoa.

Testemunho da minha experiência de droga

A primeira vez que experimentei drogas foi o ano passado numa ida a Londres.

Nunca mais me encontrei com este mundo até Dezembro 2017.

Conto a história no meu post https://podengaportuguesa.blogs.sapo.pt/vamos-falar-de-drogas-82899

 

A verdade é que desde então aqui ou ali passei a consumir praticamente todos os fim-de-semana.

Pelo caminho fiz também algumas directas durante a semana.

Foram noites e dias loucos e intermináveis.

Depois de muitas noites sem dormir finalmente vieram as férias e na minha cabeça tinha de fazer um "vai ou racha" à minha maneira.

Pode parecer loucura, mas para mim era a grande oportunidade para a "the ultimate experience".

Ou seja, a ultima grande loucura antes de parar esta brincadeira.

Então assim foi: durante 3 semanas, sem horários, sem planos, apenas sair à noite desalmadamente e consumir cocaína, mdma e pastilhas de ectasy até não poder mais.

 

Depois destas semanas intensas e já no meu 2º dia pós-férias decido fazer aqui um resumo, não só destas 3 semanas, mas do que fui retendo desta experiência das drogas.

Sei que não é um assunto ligeiro, mas neste momento mais que nunca se existir alguém que se reveja na minha experiência para mim já vai ser gratificante.

 

Aqui vai:

 

  • A apresentação ao submundo: acho que aqui varia muito de pessoa para pessoa. Eu sempre tive uma predisposição para sair à noite e mesmo não saindo, para apanhar valentes bebedeiras nem que fosse em casa, sozinha. Aliás, espanta-me não ter conhecido este mundo há mais tempo. Se tivesse de nomear alguém como meu "host" no submundo das drogas diria que foi uma rapariga que conheci num bar no Cais Sodré. Foi tão simples como ela dizer "Vamos à casa-de-banho" e eu fui com ela e quando dei por mim já tinha a linha à minha frente e decidi experimentar. Neste submundo todos se conhecem. Eu não sei bem como explicar isto, mas é quase como pertencer a um clube. Todos sabem quem está in quem está out. Muitos são os que só interagem com quem está in e muitos são aqueles que trazem "novos" membros para o clube. Julgo que foi o que me aconteceu. Conheci um cabeça de cartaz da noite de Lisboa o que fez com que a minha "ascensão" ou "aceitação" neste nicho social acontecesse tão facilmente e tão rapidamente. Passei então a não pagar entrada em praticamente nenhum local noturno em Lisboa. Passei a ter contacto com dealers. Até ao momento em que já eu comprava sozinha sem ter de pedir ao meu "host" para comprar por mim porque os dealers são pessoas como qualquer outra e não um bicho papão que achava que eram.

 

  • A fase de adaptação a cada droga: comecei pelo mdma e adorei. Deixava-me a viajar, e dependendo da qualidade, deixava-me os sentidos tão apurados que "conseguia ouvir as formigas" dizia. Depois da terceira utilização comecei a sentir a tal "ressaca" pela qual esta droga é conhecida. Estive tão triste e deprimida que decidi nunca mais voltar a usá-la. O problema foi que depois conheci a cocaína. Quando comecei a experimentar cocaína pela primeira vez nunca sentia nada e ficava sempre mal disposta. O pior é que ficava com nauseas e não conseguia vomitar, era um desconforto brutal e então não me cativou logo à primeira, mas inevitavelmente fui continuando a tentar. Foi então que entendi que se calhar para o meu corpo ter como trabalhar a droga não podia continuar a comer uma sopinha às 19:00 e ter o estômago vazio às 00:00. Passei a comer mais antes de sair, passei a andar com bananas no carro (as minhas salvadoras de sempre) e algumas vezes a tomar omeprazol (protector gástrico). Fiz então a experiência de provar a cocaína que "sobe à cabeça", de estômago composto e já com umas imperiais no sitio. Subiu-me o ego à cabeça e fui a rainha da festa muitas vezes, fiz muitos amigos (uns porque sim, outros porque lhes oferecia linhas) e finalmente percebi o porquê do fascínio com esta menina. No entanto, 1 grama custa tipicamente 50€ e tive de começar a ver outras formas de ficar com energia sem ter de gastar tanto dinheiro. Foi então que experimentei as pastilhas de ectasy. A primeira vez que experimentei foi uma verde fluorescente que me deixou a ver toda a gente a tremer, com muita energia e com uma sensação de bem-estar brutal. Era similar ao mdma mas não ficava tão zombie, ficava com mais energia e praticamente zero ressaca (exceptuando a dor nos maxilares no dia seguinte). O problema das pastilhas é que ao contrario do que pensava umas não têm nada a ver com as outras e portanto quando "desapareceram" as verdes fluorescentes do mercado foi o cargo dos trabalhos para conseguir apanhar a mesma moca. Não sei detalhar o nome de todas as pastilhas que tomei, mas posso dizer que a verde fluorescente e as chamadas "conchas" ou "shell" azuis com pintas vermelhas foram as que se destacaram. São 5/6 horas no céu por 10€. Outra coisa relevante que percebi foi a mistura das varias drogas. No inicio misturava tudo e acabava por não gostar de nada porque não entendia que de facto umas "cortam" a moca das outras e dependendo do contexto podem arruinar mesmo a mood. Já no final o alinhamento que me sabia bem era: começava a noite com cocaína na palheta com o pessoal vai-se facilmente 1 grama. Depois disso já dentro da festa tomava 1 pastilha se fosse alguma que me garantissem duração. Senão, colocava md dentro da agua e ia bebendo ou fazia shot de md em agua ou uma bombinha (enrolar md em mortalha e tomar tipo comprimido). Deixava sempre um bocado de cocaína para o final da noite no caso de necessitar acordar, ou então acabava sempre por comprar mais 1 grama no caso (provável) de after.

 

  • Os afters: a minha utilização de drogas disparou quando conheci os afters. Simplesmente nem sabia o que eram afters. Comecei por ir para o EKA palace no primeiro dia que experimentei a tal pastilha verde fluorescente. Tomei a pastilha eram umas 06:00 ainda estava no Lux e obviamente que a ultima coisa era ir dormir então juntei uns 10 desconhecidos e lá fomos nós. No total só lá fui 3 vezes porque não gostei do ambiente. Apesar de drogada não estava inconsciente e não me identifiquei com o ambiente. Rapidamente passei para os afters caseiros. Há sempre alguém que tem um amigo com algum espaço grande onde pode fazer afters. Casas em airbnb, estudios de musica, rooftops de prédios em Lisboa, armazéns, you name it. É engraçado lembrar-me de quando ia ao Lux sem nada consumir e ficava a pensar porque raio ficavam as pessoas tanto tempo ali à porta depois da discoteca fechar. Hoje já dava por mim a pensar para onde ia de after ainda o Lux não tinha fechado. Foram manhãs que se transformaram em noites e muitas não tiveram paragem. Posso-vos dizer que na ultima semana estive 4 dias em que dormi 6 horas. Dormi em casa de pessoas que não conhecia de lado algum, emprestaram-me roupa, deram-me comida, deram-me bebida, deram-me droga e eu ia andando. Quando parei estive 3 dias literalmente desmaiada (ou a dormir) em casa. Ao inicio estava no céu. Era uma experiência social totalmente impossível para mim há uns meses atrás. Posso dizer que "travei amizade" com mais pessoas em afters nestes 8 meses do que em 3 anos de faculdade. Conhecer alguém num after ou estar com alguém em 2 ou 3 afters na mesma semana acreditem que parece que equivale a semanas de campos de férias. Muitas delas foram pessoas com as quais continuei a falar frequentemente, pessoas a quem contei tanta coisa que nunca contei a ninguém, pessoas que me deram conselhos daqueles que até "fiquei sóbria", pessoas que gastaram dinheiro comigo sem me pedirem nada em troca. Não quero dizer com isto que não saiba que este circulo (principalmente em Lisboa) é pequeno e rapidamente se passa de bestial a besta, e que obviamente não há almoços grátis e tive algumas vezes a sensação de ser um pitéu no meio de vários homens (normalmente existiam muito poucas raparigas nos afters que frequentava), que obviamente sei que não querendo fazer disto habito, por mais boas pessoas que encontre, se não quero continuar a consumir terei de me afastar delas. Não porque ache que me vão influenciar a consumir, mas porque sei que são pessoas que já andam há muitos anos nesta pratica e que se controlam muito melhor que eu e enquanto eu não souber controlar-me eu não posso voltar ao circulo social.

 

  • Os nunca mais: É um processo natural o de definir limites. Ao inicio é tudo muito giro até a realidade bater de frente. Cada um tem a sua experiência. Obviamente que depois de se começar a consumir "regularmente" estas drogas as prioridades mudam. Começamos a deixar de fazer umas coisas em prol de uma boa moca, começamos a desligar-nos um pouco de certas responsabilidades que antes eram imprescindíveis. Começamos a faltar a compromissos porque estamos em after. Porque a moca está boa. Começamos a não poder atender telefonemas à família às 2 da tarde. Enquanto o mundo real continuar a correr sem problema nunca se vê verdadeiramente "mal nenhum" naquilo que estamos a fazer. O meu primeiro "nunca mais" ocorreu quando bati com o carro e esfolei os para-lamas do carro ao sair de uma rua minúscula na bica onde estive em after até às 11:00. Ocorreu o segundo quando levei uma multa por me esquecer do ticket do parque porque também estava em after. Ocorreu quando gastei 400 euros em 2 dias não sei como. Ocorreu quando me vi a pedir dinheiro aos meus pais para comprar mais. E o principal, ocorreu quando deixei de saber quem era, quando já consumia só porque sim, só porque não queria a ressaca. Há muita gente a saber controlar-se e a manter as suas responsabilidades e a consumir (principalmente cocaína), mas pelo que vi, o padrão é muito similar. Há sempre alguém que a meio do after liga ao chefe porque não pode ir trabalhar, ou liga à mãe porque não pode ir ao almoço de família. Nestas alturas, principalmente ao inicio, eu nem via isto a acontecer, eu não via mal nenhum num "after". Hoje que já passei por estes "nunca mais", quando vejo pessoas completamente descontroladas já começo a pensar que talvez um dia eu possa ser essa pessoa.

 

  • O que não faria: Fui muito inconsequente muitas vezes. Hoje posso dizer que tenho vergonha de encontrar certas pessoas, até ir a certos sítios por coisas que fiz quando estava com a moca. Sinto-me suja e sei que isto parou no ultimo dia de férias. Acredito que cada um tem a sua experiência e contexto e Lisboa é demasiado pequena para tantas maluqueiras. As pessoas são sempre as mesmas, os locais sempre os mesmos e ou damos umas longas "respiradelas" ou rapidamente nos sujamos. Eu que já tenho forte apetência para desatar a enrolar-me com pessoas bêbeda, com droga foi ainda pior. Para mim, não houve praticamente noite nenhuma ou after nenhum em que não estivesse com alguém. Piorou tudo quando me apaixonei pelo dealer. Não estou a dizer que não vá consumir para sempre mas pelo menos tenho de apertar o circulo de pessoas com quem o faço porque estar completamente vulnerável com veteranos é a pior asneira que se pode fazer. Hoje sei disso, na altura não sabia. Fiz figuras terríveis, animei muitos afters e eles pareciam estar a gostar da "brincadeira", até pareciam "não estar a julgar", e estarmos todos na mesma moca, mas no final era gozada sem saber, sem necessidade. Por isso se fosse hoje não teria saído do circulo de amigos porque a pessoa x ou y tem droga e tem after. É importante escolher as pessoas que nos vão ver drogadas, julgo que pode ser esta a frase. E eu não escolhia as pessoas pela confiança que tinha nelas mas sim pela quantidade de drogas que me poderiam arranjar com o menor custo possível. É incontrolável.

 

Não vou publicar este texto no dia em que estou a escrevê-lo porque é demasiado intimo para não pensar se devo ou não publicar.

Queria acrescentar como rodapé que apesar de tudo mantenho a opinião de que as drogas não são o bicho papão que tanto parecem e que usadas de forma "responsável" podem ser uma ajuda na auto-descoberta, no meu caso, em questões de sociabilidade que sempre tive. 

Outra coisa importante de referir é que obviamente que concordo que temos de ter alguém ao nosso lado que nos diga basta, temos de ter ao nosso lado alguém que não nos permita ficar expostos, e que é para isso que servem os amigos, mas nunca os vou responsabilizar pelo que fiz.

É muito difícil controlar alguém que está a experimentar drogas pela primeira vez.

É muito difícil mudar a ideia de alguém que está sob efeito de drogas.

Não fui vitima e não sou vitima, fiz tudo porque quis e é porque quero que vou parar e voltar à minha rotina anterior.

Se vou voltar ou não, pouco importa, neste momento quero é proteger-me a mim de mim mesma, estar rodeada de pessoas que me amam e que não consomem nada.

 

Beijinhos,

Podenga