Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

1ª consulta de psicoterapia - Modelo de Análise Bioenergética

Depois do contacto telefónico e uma primeira consulta para nos conhecermos lá foi marcada a primeira sessão: 05 de Abril 2018.

 

Combinámos fazer um mínimo de 6 sessões e avaliarmos à posteriori o estado da calamidade.

 

Cheguei ao consultório depois de um dia de trabalho cansativo e com a paciência igual a zero, mas, disposta a tentar.

Durante a préconsulta fiquei sempre sentada no chão e nesta já esperava que fosse igual com o adicional de poder fazer alguns exercícios pelo que levei a roupa mais confortável possível.

 

Sentei-me em frente à Dra. e ela pede-me para respirar fundo, fechar os olhos e imaginar-me com 6 anos.

 

"Pronto" pensei eu, "Está a tenda armada, mais uma maluquinha das regressões".

 

É que seja por falta de prática\desconhecimento ou por cepticismo, quando fecho os olhos e respiro fundo a única coisa que me vem à cabeça são as minhas finanças.

 

É que fico logo nervosa a sentir-me um alien e a pensar que tenho algum problema...

Mas esforcei-me.

Estive ali uns minutos a tentar varrer o meu balancete e a chamar a minha infância.

Não consegui.

 

A Dra. indicou-me então que pegasse numa situação que ocorresse diariamente para avançarmos a partir daí.

Qualquer coisa, a primeira que me viesse à cabeça.

Numa ultima tentativa só me ocorreu uma coisa.

 

Raramente jantava em família e mesmo quando estavam todos em casa eu fazia sempre birra para comer em frente à TV a ver os desenhos animados.

Como só tínhamos TV na sala, implicava eu ficar sozinha na sala a comer e o resto da família (onde incluía avós e país) na cozinha.

 

Foi essa situação que escolhi: o jantar.

Pois bem, fechei os olhos, respirei e visualizei.

Até aqui tudo ok, fui partilhando as memorias que me vinham à cabeça enquanto respondia às perguntas que a Dra. me fazia.

 

As perguntas tinham sempre a ver com a forma como aquilo que ia visualizando me afectava e as emoções que me provocava.

 

Estivemos neste jogo durante uns minutos até que ela me pede para me levantar e, utilizando as almofadas espalhadas pela sala representar a minha família na mesma disposição em que jantavam na cozinha.

 

Pediu-me depois para eu me sentar no chão, imaginando que estava na sala.

 

Confesso que fiquei desmoralizada.

Para mim, na minha cabeça era uma autêntica palermice fazer aquilo.

Fiquei novamente desconfortável com a situação, no entanto, encarei a personagem.

Estive uns minutos em silencio a tentar relembrar-me da disposição das pessoas.

 

Sentei-me e fui novamente descrevendo aquilo que acontecia e respondendo a perguntas.

A certa altura a Dra. pediu-me para me comportar não como foi, mas sim como eu gostaria que tivesse sido.

Como eu gostava que fosse a "minha hora de jantar perfeita", aos 6 anos.

 

A partir daí começou um verdadeiro teatro que me atravessou totalmente os filtros e me descalçou a bota de Velha do Restelo.

Senti-me estúpida, ridícula e desesperada.

 

"Como assim fingir que a minha família são almofadas e ter de interagir com elas?"

Falar para o vazio foi-me impossível.

Por esta altura já estava a transpirar e a ficar frustrada.

Para mim esta consulta estava a ir pelo caminho de todas as outras: um falhanço autêntico e mais uma tentativa de me extorquírem dinheiro.

 

A minha vontade não chegava a tanto.

Não estava a conseguir dizer nada.

Olhava para as almofadas e só me dava vontade de rir.

A Dra. então ao ver-me sem resposta decidiu sentar-se à minha frente e começou a desenrolar o papel de cada um dos membros da minha familia.

 

Nesse momento, olhando nos olhos dela e a forma como ela tão objectivamente falava para mim, a risada evaporou-se.

 

Começamos numa troca de galhardetes que quase pareciam reais.

Depois de estimulada teletransportei-me imediatamente.

É incrível como estava tudo tão mais claro do que aquilo que via.

Começou primeiro a comportar-se como minha mãe.

Não como a minha mãe se comportaria segundo a minha memoria, mas de acordo com a forma como eu queria que ela se tivesse comportado.

 

Na verdade é que assim que ela começava a interagir comigo eu respondia imediatamente, sem pensar, sem fazer força, sem fingir.

Parecia que aquele dialogo estava ali pronto para ser usado há anos.

Fiquei impressionada.

Deixei-me ir, larguei as correntes e continuei a fazer os exercícios muito mais facilmente.

 

Apercebi-me então ali que tinha mais "bloqueios" do que aqueles que realmente pensava ter.

Fomos entendendo isso as duas, pouco a pouco, abordando temas que nem eu sabia ter.

 

Durante a sessão seguimos um conjunto de interacções fictícias cujo objectivo era sempre reestruturar emoções associadas aquelas vivências.

Primeiro visualizava como tinha sido e sentia novamente as emoções menos boas, depois reproduzimo-las da forma como que queria que tivessem acontecido.

 

Como tudo, a primeira sessão é um completo tiro no escuro, são muitas pontas soltas por abordar e muito trabalho que ainda há por fazer.

Continuo a ter dificuldades em visualizar seja o que for, mas estou mais tranquila porque na verdade estou surpreendida.

Ganhei um respeito diferente pela abordagem.

 

Ao contrario de outras tentativas de psicologia\psicoterapia, estou realmente curiosa e com vontade da próxima consulta.

Será amanhã.

 

 

Tenho saudades de estar apaixonada (e ser correspondida)

Já nem sei como é enroscar os meus pés gelados em alguém pela manhã.

 

Escolher tomar banho em conjunto mesmo que isso implique ficar a arrefecer, cheia de espuma, à espera que ele saia debaixo de água.

Beliscar-lhe o rabo para sair.

Rirmos.

Acabarmos na cama.

Atrasar-me para o trabalho.

 

Oh que bom que era, acho eu, já nem me lembro bem....

Discutir porque deixou as meias e boxers espalhados pela casa e continuar aos gritos e a tentar manter a postura de durona enquanto ele me imita e me destrói, por saber que me consegue fazer rir.

 

Tenho saudades de que alguém por amor, só mesmo por amor, coma o meu bacalhau espiritual que mais parece farófias e mesmo assim diga que está óptimo porque sabe que cozinhar é uma coisa que não gosto, e que foi um custo fazer aquilo.

 

Oferecer-se para ir buscar comida chinesa...

 

Tenho saudades de vestir um saco de batatas e um vestido de gala e ouvir sempre a mesma resposta, apesar de saber que estou bastante melhor com o vestido.

Irritar-me porque ele não sabe dar uma opinião valida sobre o que me fica bem ou não.

Ouvir que se for sincero vou ficar chateada.

Pois fico, chateada, mimada, possessiva, tanta coisa tão boa e tão má.

 

Dias de praia enrolados na areia feitos croquetes de amor e esquecer que existe tempo, que existem mais pessoas no mundo, eventualmente, naquela praia.

Tenho saudades de comprar roupa para "ele" e me orgulhar de o ver com aquilo que escolhi.

Tenho saudades de andar a cheirar a perfume de homem.

 

De ler uma mensagem que diz "amo-te".

De dizer "amo-te".

De dar a mão por debaixo da mesa do restaurante.

De dar apalpões nos elevadores com outras pessoas lá dentro.

De coreografias inventadas na sala.

De viagens de carro que mais parecem um casting de Ídolos.

De ver filmes em conchinha e adormecer apesar de ter sido eu a escolher o filme.

De demorar horas a escolher o filme e vencê-lo pelo cansaço.

 

Tenho saudades "dele".

Tenho saudades de mim.