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A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

Coisas de pais

Há uma coisa que me faz alguma confusão relativamente à postura de alguns pais.

 

Que é:

 

Não podem colocar o ónus da educação dos filhos em terceiros.

Quando digo terceiros digo a sociedade em geral.

 

Na minha opinião é dever dos pais prepararem o filho para a sociedade em que ele vai estar inserido.

Isto passa por incutir-lhe alicerces morais que consideram correctos.

Não se podem esquecer que desde de muito cedo eles vão estar expostos, inevitavelmente, a situações e estimulos que não são apropriados e portanto a melhor forma de saber que partido tomar é precisamente saber que eles existem.

 

Se nunca explicam aos filhos o que os espera e como devem reagir estão a aumentar o risco de eles vacilarem.

 

Um cliché como as drogas, ou até mesmo a coisa mais básica como os palavrões.

Porque não se deve ofender o próximo?

Porque não se deve dizer palavrões?

O que deve fazer quando um colega goza com outro?

 

As crianças são pequenas esponjinhas que absorvem tudo o que vêm e ouvem.

Se elas em casa não tiverem sido talhadas para determinadas situações os pais estão a deixar isso na mão dos outros.

Pior, nas mãos da propria criança.

Ficam inseguras e numa angustia porque não sabem bem o que fazer.

Está tudo na mão delas, quando não deveria estar.

 

Estamos em época de crise de valores e isso pega-se.

Marcas do bullying na infância

Era a menina mais gorda da turma.

Sempre fui, do 1º ao 4º ano.

Nunca conseguia saltar no trampolim como as outras meninas, as aulas de ginástica para mim eram um tormento.

Sem mencionar que era sempre a ultima a ser escolhida para as actividades em grupo.

 

A roupa era outro tormento. Pobre da minha mãe.

Não conseguia vestir uma saia cor-de-rosa como as outras meninas sem parecer um barril.

Desde muito cedo tive de começar a usar roupa de gente "mais velha" porque os vestidos da minha idade não passavam na minha barriga.

 

Eram 3 "banhas".

Contava-as sempre em frente ao espelho.

Ficava a olhar para elas e a imaginar se não estivessem lá como seria o meu corpo. "Perfeito", pensava eu.

 

Foram muitos anos, muitos dias de julgamentos e comentários maldosos.

Todos os dias, todos os recreios.

"És gorda", "Sai daqui", "Não brincas connosco".

 

Que marcas pode isto deixar? Quantos anos podem durar?

Pois se nunca se falar sobre isto, a vida inteira.

 

Quem nunca passou, nem pode imaginar o que é.

 

Pior, à medida que fui crescendo fiquei bastante magra e alta.

Então comecei a ser vitima de bullying pelo motivo oposto. E principalmente das mulheres.

Nunca percebi porque as miúdas da escola diziam que eu era isto e aquilo só por usar a barriga à mostra.

 

Aquilo para mim era uma vitoria, nunca tinha conseguido ver a ponta dos meus pés, quanto mais andar de umbigo à mostra!

Para elas era uma "oferecida". Às vezes até me chamavam nomes piores.

Felizmente para mim, com esse bullying lidei eu melhor.

 

Tudo o que sou hoje em dia, as capas que coloco, são fruto da protecção que encontrei para lidar com o medo de ser posta de parte.

Eu "isolo-me" do meu grupo de trabalho porque tenho medo que eles não me aceitem.

Eu visto-me bem, maquilho-me, ando sempre de salto alto, porque preciso de chamar à atenção.

Preciso sentir-me bonita e apreciada. Por agora e por todos os anos em que sofri. 

 

Não mostrar as minhas fragilidades, para mim fraquezas, são o fruto de muitos anos a tentar ignorar as palavras que ouvia e a ser "superior".

Na minha cabeça, quando gozavam comigo eu não podia parecer afectada para não dar o gosto ao "agressor".

 

Talvez se tivesse chorado e mostrado o quanto doía tivesse alguém que reparasse na minha dor e me acudisse.

 

Como parar de me importar com quem não se importa comigo?

Uma das coisas que para mim na vida mais custa é largar o apego.

Isto acontecia-me tanto na amizade como no amor.

Quando eu digo "acontecia-me", não quer dizer que já não aconteça contudo eu controlo muito melhor a forma como me afecta.

 

O ideal que sigo é: "Nunca devo ou posso cobrar nada a ninguém, muito menos a sua atenção".

 

Há pessoas que simplesmente não são como eu. 

Cobrava tanto das pessoas que muitas vezes, por não ser retribuída, decidia "cortar o mal pela raiz" e nunca mais lhes falar.

Tantas relações que terminei assim e para quê?

Isso não me fazia ficar melhor e acima de tudo não me fazia aprender.

 

Então,  o que fazer quando damos tanto de nós a uma pessoa que na realidade não se interessa assim tanto?

 

Ponto 1 - Dar sem esperar receber.

O que quero dizer com isto é, não precisas cortar relações com alguém só porque ele/ela não te paga na mesma moeda.

Dá o que consideras que deves dar e não cries expectativas relativamente ao que podes obter da outra pessoa.

Analisa bem sempre que estás a dedicar-lhe tempo, se o estás a fazer porque queres ou "para a agradar"/"para lhe fazer o favor".

Se estás feliz ou em esforço.

Se tirares algo de bom para ti do tempo que partilham vai ser mais fácil não pedir nada em troca.

Ao contrário, se fizeres só para lhe fazer a vontade, porque por ti não farias, de certa forma aumentas a probabilidade de, quando fores tu a precisar e a pessoa não estiver lá, te desiludires de novo.

 

Ponto 2 - Dá espaço de reacção.

Não podes dizer que a pessoa não tentou se não lhe dás espaço para isso.

Muitas amigas minhas desabafam comigo que os rapazes com quem elas saem não as convidam para sair, mas muitas vezes, isso não acontece porque elas não dão espaço para isso.

Em tudo na vida, o tempo é um bom aliado. 

Fica um tempo sem tomar a iniciativa e vê se a pessoa toma.

Fica um tempo sem falar de ti e deixa que a pessoa te pergunte como estás.

Mas quanto tempo? Isso cada um tem o seu limite. Mas se nunca tentares esperar, nunca saberás se valeu a pena.

 

Ponto 3 - Olha para ti.

Se os outros não querem saber de ti, sabe tu. 

Aproveita o tempo que perdes a pensar na outra pessoa e pensa em ti, pensa no que podes fazer para te tornar melhor pessoa.

Aprende, faz workshops improváveis, desafia-te.

O que te apetece fazer hoje que podes fazer sem ele/ela?

Ler livros, olhar as pessoas na rua, pintar, costurar, desenhar, fazer voluntariado, escrever, passear o cão...tanta coisa.

E há outra vantagem em apostares em ti durante o período de "abandono", é que podes sempre descobrir no final, que a pessoa que tu tanto consideravas, afinal não está no nível evolutivo que pensavas e que simplesmente não te interessa mais.

 

Ponto 4 - Coloca a pessoa no lugar que ela conquistou.

Se pensarmos nisto como um jogo é mais fácil.

O que a pessoa fez para merecer um lugar tão especial na tua vida?

O que te fez de bom e de mau?

O que melhoraste desde que lidas com ela?

O tempo é algo muito precioso, só deves dedicá-lo a quem realmente merece. E quem fez por merecer.

Eu tenho muitas vezes este raciocínio por exemplo com os meus pais. 

Eles dedicaram uma vida inteira a tomar conta de mim, estão sempre no topo das minhas prioridades, mesmo que me apeteça mais ir para a praia que ir com eles comprar moveis para a sala.

Mesmo em fases complicadas da relação com eles tento sempre nunca dizer-lhes "Não" porque para mim, a divida que tenho com eles é muito maior do que aquilo que lhes posso dar. 

Então porque para as outras pessoas sou tão benevolente?

Há pessoas que não falam ou vêm os pais/família há imenso tempo e depois andam atrás de quem não lhes dedica nada.

 

Ponto 5 - Valoriza-te.

Não te contentes com migalhas.

Nunca deixes ninguém fazer-te sentir inoportuna, inapropriada, inferior, insuficiente.

Deves ter à tua volta pessoas que cuidam de ti e que te façam sentir bem. Viva.

Não te deves sentir um fardo para ninguém. Tu não és um fardo. 

Tens muito para dar a quem queira receber.

Não podes é continuar a bater à mesma porta e esperar reacções diferentes.

 

No final de tudo o importante é saber que deste o melhor de ti e tentaste ser feliz, mas que a pessoa não estava preparada para receber o que tinhas para dar.

 

Às vezes desiludimo-nos porque não nos conhecemos. Não sabemos o nosso limite.

Ninguém nos pode fazer sofrer se nós não permitirmos.

Doi? Obvio que doi. Há momentos em que vais adormecer a chorar e acordar a chorar.

Vão haver momentos em que te vais desiludir como nunca pensaste, mas faz parte passar por isso para que se aprendam coisas, se tirem lições.

A vida é uma viagem de autodescoberta para quem te a coragem de tentar.

E tentar passa por cair e reerguer-se.

Desilusão faz parte.

 

Beijinhos,

Podenga

 

 

Peço Licença Menstrual

Cá vamos nós, mais um óvulo, mais uma inspiração divina para escrever.

 

Já não sei se veja isto como um fardo se como uma bênção.

 

Mas confesso que hoje é muito mais do que menstruação o que vos trago.

Hoje é uma verdadeira campanha política a favor dos direitos das menstruadas.

 

Hoje sexta-feira, 1º dia da menstruação tenho-vos a dizer que ser mulher não só não é fácil como doí.

Doi muito.

 

Então vejam bem se isto não é uma verdadeira semana da tortura:

 

Segunda-feira: Mal acordo de manhã tenho a brilhante ideia de me pesar e vejo que, após tanto trabalho para perder 4 kg lá voltei eu até aos 65 kg. Tão revoltada que estava com a situação que até me passou que terça-feira era feriado e tinha combinado um mega jantar com as meninas para as 20:30. Para me vingar da frustração de estar gorda fui comer sushi e beber que nem um benfiquista no final do campeonato. Cheguei a casa às 08:00 da manhã com mensagens de um desconhecido no telemóvel.

 

Terça-feira: Acordo com o despertador a tocar. Ah afinal não é despertador é mesmo o alarme do aniversário da minha mãe que ao contrário de mim é uma verdadeira santa. Acordo em sobressalto, vou direita ao banho, pego nos primeiros trapos que me aparecem e toca a fazer 50 km de carro. Não sei o que se passou com Lisboa naquele dia, mas claramente que o Sol estava mais forte que o costume e ainda não tinha chegado a casa dos meus pais e parecia que já levava 2 semanas de conjuntivite (estilhaços da noite passada, das quais tinha poucas memórias). Chegando a casa dos meus pais (com 2 andares) achei por bem sentar-me de levezinho no sofá da sala enquanto se preparava a mesa do almoço de família no andar de cima. Acordo 2 horas depois e decidi encomendar uma pizza pois o almoço já tinha terminado. Depois de comer a pizza dormi um soninho, acordei, desejei parabéns à minha santa mãe e fui para casa.

 

Quarta-feira: Chegou umas jeans que mandei vir de um site de roupa que achei giro (já agora recomendo https://www.pinkboutique.co.uk ). Uau! Até que enfim uma boa noticia esta semana. Saio eu do trabalho ao final do dia, toda ansiosa, a correr para ir para casa experimentá-las e deliciar-me em frente ao espelho e qual não é o meu espanto que assim que as visto me dou conta que algures no tempo perdi o meu rabo. Literalmente não existe, está espalmado. Quer dizer, ele existir existe, está é ali algures entre o joelho e o tornozelo...

 

Quinta-feira: Inconformada com a situação do meu rabo e depois de ter visto 300 dicas de "Como ter glúteos em 3 dias" decidi inscrever-me no ginásio aqui do lado. Não amiguinhos, não é nenhuma cadeia pomposa tipo Fitness Hut e Holmes Place...é mesmo daqueles ginásios em que eu sou (praticamente) a única menina e que quem geme são os homens. Sem tempo a perder, faço a inscrição, pago o que tenho a pagar, equipo-me e subo imediatamente para a zona de cardio. Transpirada e feliz ao som de "I ain't your mama" da JLO (melhor inspiração impossível) aparece-me um braço maior que a minha anca ao meu lado a sorrir. Abrando o ritmo, retiro os headphones e ele diz-me "Então, qual vai ser seu treino hoje?". Sorri, não percebi se aquilo era algum código de guerra, mesmo assim decidi arriscar e respondi: "Glúteos".

Ele sorriu e disse: "Então quando terminar a corrida venha ter comigo". Juntei-me à trupe dos gemidos e só saí do ginásio 2 horas depois.

 

Sexta-feira: Acordo contente, dorida e motivada 1 hora antes do que o normal para preparar a minha pêra abacate para o pequeno-almoço e a minha mala de treino. Cheia de vitalidade chego ao meu emprego, ligo o portátil e num momento de reflexão penso " uff, pela primeira vez na minha semana alguma paz". Depois de almoço senti algum desconforto abdominal, mas também depois do exercício do dia anterior não dei relevância. 15:00 e já ninguém me podia aturar. O óvulo quer sair. É oficial, estou menstruada, gorda, e tenho de ir ao ginásio porque o meu glúteo está adormecido.

Para piorar tudo a minha melhor amiga quer ir para os copos amanhã. 

Há algo mais injusto do que estar menstruada, gorda e ser convidada para uma festa espectacular e ter de dizer que não?

 

Peço licença menstrual por favor.

Não me aguento.