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A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

A Podenga Portuguesa

Mulher dramática, pensativa, inquieta, feliz e infeliz. Que carrega o peso do mundo nas costas. Que é filha da mãe natureza. Acredita no amor, na empatia, na verdade, na hipótese.

O momento em que o mundo pára

 

 

 

É reconhecido á mulher uma capacidade de expressar as suas emoções de uma forma mais aberta do que o homem.

Contudo, acredito que os homens só não têm essa facilidade devido a todos os filtros que a sociedade lhes foi incutindo....

 

Adiante...

 

Estava a trabalhar há 2 anos numa das maiores consultoras do mundo.

Dada á pressão que sofria todos os dias, era importante criar uma barreira mental e emocional de forma a não ser esponja de todos os sentimentos alheios e manter o discernimento para não esquecer as minhas prioridades.

 

Contudo, manter essa barreira, quando falta o apoio daqueles que mais precisamos (família, amigos, namorado) e sem quaisquer momentos de "escape", é uma tarefa extremamente difícil.

 

Chamaram-me ao gabinete do chefe para me comunicar que dali a uma semana iria para o Brasil num projecto com duração de 2 anos, onde o sistema de viagens seria 3 semanas lá, 1 cá.

 

Devo ter ficado verde.

 

O meu namorado e eu acabamos de nos juntar e eu vou para o Brasil durante 2 anos? A serio?!!!!

 

Bom, não tive outra hipótese, não havia mais ninguém com a minha formação. 

 

Começou o projecto e eu percebi logo que aquelas pessoas não eram iguais ás que eu, felizmente, tinha trabalhado até então..

São as típicas lambe botas do chefe.

Ovelhas.

 

Fiz a primeira viagem, em classe económica.

Viajei sozinha e aterrei de madrugada.

Com o jetlag não consegui dormir e mal acordei contactei por skype um dos colegas que já estava no cliente (ficava a uns 400m do hotel).

Qual não foi o meu espanto, que ele não me foi buscar ao hotel. Deu-me as indicações por skype e eu fui lá ter sozinha.

 

As suspeitas verificavam-se. 

 

Cheguei lá, foi como se já lá estivesse há anos. 

Ninguém me recebeu, ninguém veio ter comigo, nada.

 

Eu tive de ir ter com as pessoas e "integrar-me" se quisesse.

Parecia aquelas cenas de prisão dos filmes em que eu era a "novata".

Sentia que todos cochichavam a minha chegada, mas não sei porquê, ninguém se aproximava para me ajudar.

 

Passado meio ano de lá estar já se fazia sentir o meu estado emocional.

Durante o trabalho fazia-me de forte, mas chegava ao hotel e desabava em lágrimas.

Não gostava do sitio, das pessoas com quem trabalhava, tinha saudades da família, do namorado, da comida...

 

Para ajudar á festa, descubro que o meu namorado anda a fazer "amigas" enquanto eu estou lá.

 

Era mais uma coisa com a qual tinha de lidar: ciumes. Mulher ciumenta a ter discussões por skype com a pior rede Wi-fi do mundo.

 

De cada vez que chegava a Portugal sentia menos e menos entusiasmo por parte dele por me ver.

Podia ser só a minha carência, mas infelizmente agravou para um nível de rejeição.

 

Evitava-me fisicamente.

Nem um beijo mais elaborado lhe podia dar.

Dizia-me ele: "Lá estás tu, só pensas nisso".

Lol

 

Estava destroçada. A minha auto-estima não existia.

Além de estar a ser escrutinada pelos meus colegas de projecto e pelas minhas avaliações de performance, o meu namorado não me quer tocar.

 

Já fazia um ano que estava nisto.

As crises de choro intensificavam-se e os ciumes também.

 

Por mês, chegava a gastar 150 euros de roaming para controlar o meu namorado.

 

Mas não foi preciso gastar muito mais.

 

Um dia, para tentar relaxar um bocadinho marco uma massagem no hotel.

Era mesmo aquilo que me estava a fazer falta.

Depois do trabalho lá fui eu para o centro de spa.

 

Vou a trocar mensagens com o meu namorado (que para enquadrar tinha um dual-sim) e eis senão quando faço-lhe uma pergunta, e ele responde-me de outro numero.

 

Ou seja, ele tinha outro numero e eu não sabia.

 

(Estou a suar só de relembrar)

 

Nesse momento eu parei, virei-me contra a parede e fiz muita força para não chorar.

 

Tive o discernimento de dizer ao senhor do spa que tinha ocorrido um imprevisto e que não poderia ir á massagem.

 

Envio-lhe uma mensagem a dizer "vai ao Skype".

 

Cheguei ao quarto com tanta raiva dele que nem sequer chorei.

 

Liguei-me ao skype e disse-lhe friamente: "Quando chegar a Portugal, não te quero mais ver na minha casa".

 

Namorávamos há 3 anos. Tinha sido o meu primeiro namorado e a única que pessoa que amei até hoje.

Era o meu melhor amigo.

 

Os pedaços de mim que ainda existiam naquele momento desfizeram-se.

Liguei para a única rapariga do grupo que eu seria capaz de desabafar uma coisa destas, ainda que não esperasse grandes conselhos.

 

Disse-lhe o que se tinha passado e pedi-lhe para ter alguma compreensão relativamente á minha prestação no projecto dali para a frente.

 

É muito duro fazer um luto de uma relação. Mas fazê-lo sozinha e discretamente é agonizante.

 

Por esta altura, chegou a única noticia que me poderia deixar feliz: O projecto foi encurtado. Iríamos embora dali a 2 meses.

 

Quando cheguei a Portugal já não havia vestígio dele.

Tal como lhe tinha dito para fazer, saiu antes de eu chegar. 

 

Foi um golpe do destino termo-nos separado precisamente antes da ultima viagem e juntado precisamente antes da primeira.

 

Cheguei a Portugal e decidi despedir-me.

 

Precisava parar para lamber as feridas, e reconstruir a Leoa que um dia existiu em mim.